Mãe dedicada, mulher invisível. A maternidade me transformou muito, me fez enxergar o mundo com outros olhos, despertou em mim um amor que antes eu seria incapaz de acreditar que poderia sentir por alguém, mudou minhas prioridades, mas com certeza uma das coisas que ela me trouxe POR UM ERRO MEU: Eu perdi minha identidade depois que me tornei mãe.
Dia desses escrevi isso em uma das minhas redes sociais e uma pessoa me retornou com a pergunta: Sabrina você acredita mesmo que perdeu sua identidade com a chegada de seus filhos?
E intrigantemente a resposta foi: SIM, Eu perdi minha identidade depois que me tornei mãe…
Sim, a mulher muda depois dos filhos! Você agora é mãe!
Em muitos momentos eu percebi o quanto estava totalmente condicionada ao rótulo de mãe e mais nada. Sentia como se todo o meu espaço fosse preenchido apenas por fraldas, mamadas, papinhas, brinquedos, noites mal dormidas e afins. Eu era apenas a mãe e dona de casa.
Já não sabia mais do que eu gostava, o que eu queria. Se alguém me perguntasse o que eu gosto de fazer nos fins de semana, onde gosto de passear, certamente eu responderia: “ah, eu gosto de ir no restaurante X, porque lá tem brinquedos para as crianças” ou “eu adoro ir para o clube porque as crianças se divertem o dia todo”.
Não são os filhos que nos fazem perder a identidade
Visivelmente EU me condicionei a fazer apenas aquilo que era legal para os pequenos, mas uma coisa importante de dizer é que nada disso significa que eu NÃO estava feliz…. eu estava e muito!
Porém eu me perdi nesse tempo e isso teve consequências para mim. Estava tendo muito dificuldade de saber quem eu realmente era além dos meus filhos. Já não me valorizava por estar fora do mercado de trabalho, estava me sentindo alienada, acomodada.
Desestimulada, desatualizada, improdutiva perante a sociedade (que cobra tantas coisas de nós), enfim invisível, com a auto estima lá em baixo. Não me sentia interessante para meu marido, não me sentia confortável em certos grupos onde as conversas não eram baseadas em educação infantil, comportamento de filhos e tarefas domésticas.
Eu usava meus filhos como desculpa para todas as coisas que eu estava deixando de fazer. Deixei de lado meus gostos, minhas preferências, meus cuidados, as delicias de ser eu mesma, para ser a mãe que eu idealizava para meus filhos e me apoiava no argumento de que eu “não tinha tempo”, estava “cansada demais”, eu “não tenho com quem deixar as crianças” . Eu vivia cheia de ideias na cabeça mas que nunca eram colocadas em prática porque eu sempre usava a boa desculpa de estar sobrecarregada demais “sendo mãe” e isso me incomodava.
Dois lados da maternidade
Há um equilíbrio tênue entre assumir o papel de mãe, se doando para a maternidade e mantermos nossa identidade. E isso é perfeitamente possível. Podemos sim e devemos transitar em nossos outros tantos papéis como o de esposa, profissional e mulher, mas nem sempre conseguimos. Eu vivi dois lados da maternidade e posso dizer isso com conhecimento de causa!
Quando tive o Bê, no auge da minha adolescência, contei com uma rede de apoio que foi fundamental para continuar trabalhando, estudando e desempenhando outras funções além da maternidade. Isso me deu espaço para preservar minha identidade e nem por isso eu fui uma mãe ausente, relapsa ou negligente. Porém o fato de ter compartilhado minha maternidade com minha mãe, me fez querer fazer diferente quando fui mãe novamente. Não sei se por culpa ou por auto-afirmação eu precisava viver isso.
Depois da Elisa e do Igor eu escolhi me dedicar apenas a maternidade, até aí tudo bem, mas eu passei a enxergar unica e exclusivamente essa parte da minha vida. Eu, que comecei a trabalhar cedo e sempre fui independente, parei de trabalhar, mergulhei na maternidade e sem perceber deixei de lado muitas coisas que faziam parte de mim. Mas o tempo foi passando e fui tomando consciência disso.
Comecei a sentir falta do que eu tinha deixado e descobri o quanto isso não estava sendo saudável, nem para mim, nem para meus filhos e nem para ninguém. Eu não sentia falta da minha vida sem filhos, não é isso. Eu sentia falta de ser algo além de mãe. De ser reconhecida. De me sentir produtiva. De ser mulher nos mínimos detalhes.
A mãe e a mulher podem caminhar juntas
Eu entendo que eu sou a protagonista da minha própria história. Nada aconteceu por culpa da maternidade, a escolha foi minha. Mas por muito tempo eu não enxerguei dessa forma. Me vitimizei e cobrei isso de quem não tinha nada a ver. Me tornei chata. Me afastei das pessoas, meu casamento entrou em crise…
Não estou aqui defendendo um “certo” ou “errado” da maternidade. Como diz aquele velho ditado: “Quem calça o sapato é que sabe onde ele aperta”. Eu senti falta de coisas que mudaram depois que tive filhos e que eu gostaria que não tivessem mudado, mas existem aquelas que se adaptaram perfeitamente a nova vida, a sua escolha e estão bem assim.
Eu demorei um pouco mais para enxergar isso, para entender porque estava tão feliz mas ao mesmo tempo não me sentia completa, mas sempre é tempo de retomar, de nos resgatar. Mas digo mais: A porta da transformação só abre por dentro. É preciso estarmos prontas até mesmo para nos encontrar novamente.
Consegui compreender que eu poderia ter sido a mesma “excelente mãe” sem me “abandonar”, apenas não tinha consciência disso e não agi.
Hoje eu consigo enxergar com outros olhos algumas coisas. Não me arrependo em momento algum de me dedicar a maternidade como me dedico, porém, consigo abrir espaço para outra parte de mim, para o marido, para exercitar meu intelecto, para nos divertirmos, tudo junto.
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