Mães adotivas podem amamentar!
Conheça a emocionante história de Vanessa e seu pequeno Davi. Uma história de adoção, amor e amamentação. Um relato lindo para inspirar outras mamães que estejam nessa fase!
Sou filha única “de barriga” e com meu irmão de coração formamos a família que meus pais tanto sonharam. Mesmo tendo vivido em casa uma experiência muito próxima de adoção, naquela época não se imaginava que mães adotivas podem amamentar.
Quando me casei, meu marido já tinha três filhos, duas meninas e um menino já “criados”, 22, 23 e 25 anos, mas, eis que com 7 anos de relacionamento resolvemos ter o quarto filho do Adriano meu esposo, vasectomisado há 15 anos e o meu primeiro filho!
Num primeiro momento optamos em fazer inseminação, método indicado já que a vasectomia do Adriano era antiga e fomos informados pela junta médica que o risco da reversão dar errado era enorme, além de termos chances de um embrião com alguma deficiência severa, o que não mudaria em nosso amor, mas tivemos cautelas!
E eu no auge dos meus 33 anos iniciei minha saga para ser mãe!
As inseminações
A escolha por esse caminho me fez mergulhar num longo processo de frustrações, amor e lágrimas… Lagrimas de amor, lágrimas de dor, dor física, emocional e financeira. Passei por 7 inseminações, nunca imaginei que seria tão difícil.
Lembro-me que na adolescência ouvi de um médico ” menina se cuide, você é perfeita e engravidará em um piscar de olhos” e sempre acreditei naquelas palavras. Para mim era inconcebível tudo aquilo que estava passando… Carreguei as palavras daquele médico em meus ouvidos, mente e coração, me esquecendo por algum tempo de que não somos nós que estamos no comando de nossas vidas, mas sim Deus.
Me tratei com três médicos, dois deles considerados os melhores do Brasil. Fui diagnosticada com trombose, não um tipo de trombose, fui diagnosticada com todos os tipos de trombose existentes e mesmo medicada não conseguia segurar uma gestação. A alta dosagem hormonal, todo o tratamento para trombose e minha predisposição genética associados me trouxeram vários problemas secundários de saúde, mas era o preço a se pagar.
Foram sete inseminações, quatro insucessos e três abortos. Tudo muito sofrido, muito empenho e recursos financeiros despendidos. Cada mês gerávamos uma esperança que depois era arrancada de nós.
Anos de angústia se passaram, chorei, rezei, clamei e só pedia a Deus para ser mãe. Um dia parei e fiz algumas contas, não apenas contas financeiras mas também uma conta de amor. Questionei tantas coisas que estavam acontecendo, e que eu precisava de compreensão, não da situação, mas dos planos de Deus para minha vida: “Meu Deus há quanto tempo estou querendo amar e não estou entendendo amor de Deus por mim”.
Foi quando já cansados, no tratamento com o terceiro médico cogitamos adoção.
Cadastro para a adoção
Logo de cara fui desestimulada pelo “sistema” (mas não quero que as pessoas sejam, então prefiro mostrar que dá certo sim!)
Já estávamos inscritos a bastante tempo na comarca da nossa cidade, nosso cadastro foi feito para sermos pais e não para termos um(a) filho(a). Digo isso porque quem adota é muito mais adotado do que o de fato adotado (filho ou filha).
Meu cadastro era extremamente abrangente, nos dispusemos a adotar grupo de irmãos, negro, branco, amarelo, índio, inclusive estávamos abertos a receber uma criança com doença infectocontagiosa, o que nem de longe é uma escolha fácil de se fazer e, de coração, se você não estiver muito preparada e com muita certeza disso, não aconselho fazer, pois muitas das devoluções de crianças aos abrigos se dá por agir no impulso e ansiedade.
Minha única e não fechada exigência era até 1 ano, mas adotaria maior sim e com certeza porque meu sonho de ser MÃE estava muito acima disso e tenho um esposo que não média esforços para ser pai novamente!
Um dia telefone tocou
Era dia 13 de janeiro de 2014, recebia notícia de que ele iria nascer em muito pouco tempo. Estávamos na praia ( tem hora mais errada para tirar férias?) juntamos tudo fomos embora. Era a nossa vez!!!
Além da notícia da chegada no nosso tão sonhado filho, não nos foi informado mais nada, visto que a genitora não tinha pré natal, então não se sabia da existência de nenhuma doença, nem sexo do bebê… Mas nada disso importava.
Quando cheguei em casa fui lavar o pouco de coisa de bebê que eu tinha par deixar tudo preparado. A ansiedade me consumia, mas eu ainda precisava esperar o nascimento.
Se passaram 15 dias e nada do meu pequeno nascer! Eu queria fazer mais, queria pagar uma cesariana mas a adotante não pode se envolver .
Nesses 15 dias meu marido precisou viajar a trabalho para fora do Brasil, viagem que já estava agendada há tempos e foi bem no dia em que ele viajou que meu milagrinho veio ao mundo.
Meu pequeno era de uma cidade á 3300 km de onde moramos e eu precisava dar conta do recado sozinha, Eu não podia decepcionar a Deus pois ele não me decepciona. Então fui com minha mãe, que esteve comigo em todo o tempo e uma amiga. Logo depois meu pai e ai meu marido chegaram.
A estimulação para amamentação
Voltando um pouquinho…
Logo que recebi a notícia de que havia chegado a nossa vez, procurei minha médica para iniciarmos um tratamento de estimulação a lactação. A médica foi muito clara comigo: _Vanessa o “não” já temos, nós vamos tentar, se não der não vamos pirar!!! Mães adotivas podem amamentar, mas nem sempre dá certo! Eu disse “ok”, quero ser mãe, a barriga não me faz falta, amamentar não será problema caso não aconteça, mas eu acreditava que podia e que conseguiria.
Meu desejo de amamentar era maior do que tudo e durante processo de adoção, que não tem data nem dia nem hora, eu li muito, conversei com muitos médicos e até mesmo pessoas especialistas em amamentação.
Fiz tudo conforme orientado e ao se passarem 15 dias (os exatos 15 dias desde a ligação até a notícia da chegada do meu bebê) eu tinha leite vazando. Como Deus foi maravilhoso comigo!
Compreenda melhor
A mulher que deseja amamentar seu recém nascido adotado pode fazê-lo mesmo sem o estimulo prévio da gestação. A chave para o desenvolvimento da produção de leite é seu desejo para colocar o bebe no seio e boa vontade deste sugar.
No caso da mulher ter amamentado antes, pode-se observar a presença de leite nos primeiros 7 dias; se é sua primeira experiência, ele aparece geralmente na segunda semana. Nas mamães adotivas a produção de leite segue aumentando ate o sexto mês.
Para que isto aconteça, recomendo um suplementador como o Mamatutti, SNS, ou uma seringa de 60 ml e uma sonda uretral 04 com leite artificial. Com esta suplementação o bebe consegue alimentar-se e ainda estimular o peito da mamãe.
Como o essencial nestes casos é o estimulo freqüente da mama, recomendo ainda uma ordenha com bomba elétrica, se possível, por 10 minutos cada mama de três em 3 horas pelo menos.
Os efeitos colaterais do tratamento
Quem me orientou e medicou foi uma amiga Neopediatra. Alguns profissionais são contra a ideia de amamentar sob efeito de medicação. O próprio pediatra que recepcionou o Davi não aprova o método. Porem é constatado que nenhum mal acontece para o bebê ou para a mãe, tanto que o medicamento que usei é indicado para quem tem pouca produção de leite mesmo tendo uma gestação de barriga.
E também com orientação da minha médica, comecei a fazer uso de uma medicação e fazer estimulação com máquina de coleta de leite para estimular glândulas mamarias ( o que dói muito, mas valeu a pena).
Existem sim várias reações adversas e isso tem que ser exposto por parte dos profissionais, porém elas variam de acordo com cada organismo. As que chamam mais atenção é tontura, porem eu tomava a dose mais elevada e nunca tive tontura. No entanto tive acnes severas, todas internas e que infeccionavam muito.
Quando parei de amamentar precisei fazer tratamento para acnes, não por questões estéticas pois rosto foi menos atingido, mas era questão das inflamações mesmo. Foram necessarios dois meses de tratamento e depois disso nunca mais voltei a ter.
Meu encontro com meu filho
Davi nasceu à 1:10 hs da manhã de parto normal com 3,350 e 51 cm, cheio de vida e com muitos exames a fazermos.
Aí começava mais uma angústia, porque precisávamos aguardar até tudo ficar pronto para sabermos se poderíamos levá-lo para casa ou teríamos que fazer algum tratamento de saúde.
A pergunta que não saía da minha boca, aos representantes legais era: ” Quando vou poder ver o meu filho?” … Eles me disseram apenas que eu deveria aguardar os exames para ele ser liberado. Nessa espera cada segundo parecia uma eternidade e foram horas de angústia…
Recebi uma foto dele … Meu Deus, como era perfeito!
Com 30 horas de vida finalmente meu filho me foi entregue. Meu filho. Meu.
Assim que o peguei não pensei duas vezes, coloquei meu pequeno em meu seio. Estava calor, eu estava suada, mas ergui minha blusa no lugar que estávamos, deixei ele me cheirar e com a boquinha ainda tímida mamou… Meu desejo de ser mãe era tão forte que sou capaz de dizer a qualquer pessoa que sinto cicatriz da cesária!
Mães adotivas podem amamentar, mas nem sempre conseguem. Amamentar o Davi foi um ato tão grande de caridade que Deus teve comigo, foia a maior e melhor experiência que eu poderia ter como mãe. Tanto que me sinto na obrigação de dizer aqueles que estão nessa luta: Não desistam, seja para serem pais, para amamentar ou para simplesmente AMAR…
Assim como qualquer outra mulher que gerou e amamentou, a amamentação para mim também teve seus dilemas e dores. Amamentar exige um ato de entrega e doação que nos transforma.
Mães adotivas podem amamentar
Sem querer me gabar, me sinto uma grande vitoriosa, pois a amamentação no meu caso era algo pouco provável de acontecer e eu tinha isso em mente… Tentei encarar todo o processo da forma mais racional possível, apesar de meu emocional já estar totalmente envolvido. Mas não sei se pelo fato de ser profissional da área da saúde, ou se porque eu queria tanto vivenciar esse amor de mãe de qualquer maneira que não seria um problema não ter dado certo. Afinal isso é passível de acontecer até com as mães que geram.
Hoje sinto que o nosso desejo, de alguma forma, mostra ao universo que amor não tem cor de pele, tipo sanguíneo, tipo de cabelo.. O amor transcende e para ser mãe ou pai não necessariamente requer uma barriga e muito menos 9 meses de espera porque nesse caso o tempo independe de questões naturais, as vezes é muito mais, as vezes é menos…
Eu tenho comigo que remédio me ajudou muito, mas que o meu subconsciente, minha fé e o meu desejo foram mais fortes que tudo. Tive forças para ir onde jamais imaginei e compreendi o que era amar verdadeiramente, além de tudo aquilo que eu já conhecia como amor.
Mães adotivas podem amamentar e a amamentação de uma mãe adotiva não é diferente da amamentação de uma mãe biológica. É linda, é um momento sublime, mas requer entrega e sacrifícios e como toda mãe que amamenta também senti dor e cansaço.
Sobre o Davi
O nome Davi foi decidido no dia em que ele nasceu. Davi é VIDA ao contrário e significa por Deus o amado. E Deus desenhou tão bem este nascimento que eu não poderia colocar outro nome.
Hoje Davi está com 3 anos e 7 meses, sabe que nasceu do coração porque conto para ele desde dia que ele nasceu e ele as vezes até conta para pessoas “Você sabia que eu cresci e nasci do coração da minha mãe porque ela estava com a barriga estragada? Mas coração é gostoso igual a barriga e até hoje eu entro lá” … Isso porque às vezes ele pede para ficar embaixo da minha blusa perto do coração igual quando ele era bebê!
Davi tem um ” tiquim” de cada irmão, os trejeitos do pai, e gênio da mãe , somos muito iguais.
Nós não fizemos fotos tradicionais esperando Davi, mas fizemos fotos minhas lavando suas roupinhas na ansiedade para que chegasse logo.
Enquanto esperava escrevi um diário onde relato meus choros, nossas expectativas, frustrações, sonhos e muito amor…
Todo natal eu colocava um coração grande na árvore escrito “esperando você” e tirava fotos… E foi no natal de 2014, Davi com quase 1 ano que fizemos nossa foto mais linda. Do meu pequeno segurando o coração escrito “cheguei em janeiro 2014”
Relato de Vanessa Zanelato, 38 anos, mãe mais que realizada e feliz. Uma seguidora que virou amiga!